quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Leveza...

- O que foi?
- ... Nada. Só estava tentando ler sua mente.
- Hum... E o que você descobriu?
- Ia dizer que era segredo, mas não é nada que você já não saiba.
- ... Posso ao menos saber em que ponto você parou?
- Fui interrompida justamente no ponto em que me perguntava quando é que você me beijaria.

Vi em seu rosto uma surpresa ligeira. Não era susto. E meus olhos, desta vez, pareciam corajosos o suficiente para permanecerem sobre meu objeto de desejo, sem titubearem.

Pude vê-lo segurar um forte suspiro inacabado, enquanto seu pé direito lançava-se sobre aquela insustentável iminência. Em milésimos, seu corpo urgente estava cortando o ar. Vinha em minha direção elegantemente veloz. Parecia vencer o tempo.

A cada passada dele, sentia-me mais imóvel; o ar deixava meus pulmões impiedosamente e meu coração escalava-me a garganta. Certamente as pulsações far-me-iam explodir, se ele não tivesse chegado a tempo de desativar-me. Já podia sentir seu ardor enlevando-me. Fechei os olhos reflexivamente e...

Nada. Tornei a abri-los devagar, agora temerosa quanto ao meu destino. Será que desistira de mim?

Mas ele ainda estava lá, a menos de meio palmo de mim. Sua quentura continuava atingindo-me. Como eu já não mais respirava, tudo que podia ouvir eram os berros em meu peito e as arfadas nervosas (d)ele desnorteando algumas mechas de meu cabelo. Elas dançavam confusas, num ritmo desrítmico, enquanto ele rematava o que restara do espaço entre nós.

Tocou-me. Sua bochecha... na minha. Ainda lá, parecia desenhar borbulhas em minha pele, ao correr minha face com a ponta do nariz. Ele respirava em mim. Agora seus lábios beijavam-me a face e desciam lentamente...

Inacreditáveis...

Ardentes...

Sedutores.

Pacientemente, tocaram os meus. E lá permaneceram passeando levemente, como se tentasse devolver-me o ar com seus ofegos. Não pude me conter diante daquela tensão. Comecei a responder a suas carícias ansiosamente ao mesmo tempo em que deixava minhas mãos tomarem o caminho que quisessem. Elas tocaram-no o tórax... pescoço... mandíbula... nuca. Elevavam-se ao ritmo daquela realidade que de tão transversal, paralela se tornara. Ele apertava-me contra si; suas mãos em minha cintura... contornavam-na vigorosamente.

Fogo. Era tudo o que éramos no momento. Uma intensa labareda invisível. Podíamos apenas sentir-nos um ao outro e afogar-nos naquela impetuosidade extasiante.

Estava amarrotando-me... friccionando-me... inflamando-me. E cada toque fazia-me querer mais um gole daquela perdição.
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... afinal, o ar quente sobe.

Esboço primeiro: 10/11/08.

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