sábado, 12 de março de 2011

Primeira vez

___________________________________________________________________________________
Este texto contém trilha sonora (música: "Without a name" - Clan of Xymox). As imagens do vídeo em questão nada tem a ver com esta postagem. É a música que importa aqui. Apertem play e desfrutem a leitura.
______________________________________________

Ele abria a porta, chegando em casa depois de um longo dia de trabalho. Cansado e sem pensar atirou-se com pasta, terno e gravata ao chão, tentando evitar que o segundo fosse pequeno demais. Sua mão conseguiu chegar a tempo de evitar que a cabeça da morena que caía do sofá tocasse o chão com toda a força do acaso.
A respiração pesada da pressa o fazia esquecer a perna que batera com brutalidade na mesa de centro, cheia de pó, vodka e cigarro. E na ânsia de não tentar entender nada, espantava às pressas o cabelo que escondia a face dela. A pele de um branco veludo-vampiresco, mas não assustador, o fez arregalar de susto mesmo assim. O negro do cabelo escorrido resvalava como água pelos dedos dele que a salvara.
Por um instante ele pensou ter entrado pela porta errada, mas não quis sair do chão para averiguar. Dali a mobília era realmente a dele, embora aquela bela adormecida não. Mas agora seria, pensou ele num piscar de clareza e olhos. Ela agora começava o abre-e-fecha de pálpebras até que conseguisse enfim enxergar os olhos que a olhavam fixamente. Um espanto passageiro tomou o rosto dela, até que de golpe abriu-se um sorriso tranqüilo com um fechar de olhos. Como uma gata em deleite após uma tigela de leite, ela suspirou e esticou-se enquanto se contorcia num espreguiçar contra o chão, o que fez os dedos da mão dele estalar entre a cabeça dela e o tapete. Ele fez cara de dor; ela não viu. E foi tão rápido o puxão em seguida, que ele na dor não conseguia mais pensar.
Ela já o havia tomado em suas mãos com o desejo insano do qual ele só vira um lampejo enquanto se via puxado por ela. Agora em sua boca, ele sentia o sabor da mistura que estava sobre a mesa. E do corpo dela podia sentir o cheiro de talco, enquanto se livrava de seu casaco e gravata. O beijo, início do que não acabaria tão cedo, era vermelho que borrava sem contorno a boca daqueles dois corpos magnéticos de suor e desejo.
Com as costas dela sobre o chão, ele a tomava por inteiro. Distribuía sobre a pele dela, sua boca em lampejos. Ele descia por ela, que elevava a cabeça em sorrisos e gemidos. Ele a rasgava a roupa e ela respondia estourando com força os botões da camisa que, dele, despia. Com a mão esquerda ele erguia, dela, tornozelos ambos, até que apenas costas e braços se mantivessem no chão. E com dentes e carícias ele retirava a calcinha pura de algodão, enquanto ela ofegava e apertava com unhas rosadas, o grosso tapete sobre o qual repousava inquieta.
E assim que terminou de desnudá-la, tornou a subir para beijá-la. E naquele curto espaço em que estavam, entre o sofá pardo e a mesa baixa, ela o revirou e logo por cima dele já reinava. Com o golpe certeiro de uma mão só, abriu a fivela do cinto que ele usava. E com dentes famintos avançou sobre o couro, puxando-o e fazendo-o gritar de atrito. Mas tudo que via aquele homem que agora arqueava, era a faísca do olhar de lince que ela o lançava. E continuava a fazê-lo enquanto abocanhava agora o botão da calça. E ele a acompanhava num oscilar entre o olhar dela e o desabotoar da calça, a fim de não perder nada. Mas o que o prendia era a língua dela contra os dentes, empurrando o botão que ora sumia entre lábios e selvageria e ora escapava da mordida; o mesmo botão que atravessava agora a fenda que o prendia. E o descer do zíper ampliou brutalmente a abertura.
Ela então despiu aquele mundo com a velocidade das mãos e fitou a cueca boxer dele com mistério. A superfície era tentadora para ela, que ao contrário de avançar como vinha fazendo, adocicou o rosto numa expressão de ternura. E assim ela deslizou o corpo nu no corpo dele, até descer e repousar em seu peito. A cabeça dela abrigava o som da vida dele, que acelerava. E de onde ele estava, começou a acariciá-la as ancas e a gostar da bela agonia de seu movimento. Ela as erguia involuntariamente, apoiando joelhos e mãos no chão, deixando que as pernas dele se abrigassem entre as dela. E assim ela se erguia enquanto mantinha a cabeça baixa, deixando a ponta de suas mechas uniformemente negras arrepiarem o peito dele. E, ele, vendo-a em ascendência da nuca à bunda, podia senti-la deslizando sua cueca para longe de si.
O braço dela, então, esticou-se até o assento do sofá e dali retornou com uma camisinha em mãos. Com a facilidade dos dentes, ela abriu o pacote com a navalha do prazer, pegou o conteúdo e cuspiu a embalagem fora. Abriu um sorriso ao notar o quanto aquele homem palpitava, segurou a ponta do preservativo e não tardou a desenrolá-lo sobre a grossa fervura. Em seguida, degustou sua obra de arte num rápido movimento que o faria querer mais. Cereja, ela pensou.
Ele de repente a pegou nos braços num puxa-empurra ininteligível de quem tanto ofegava e a pôs novamente de costas ao chão. Ela perdeu o ar e mais ainda quando o sentiu afastando suas pernas com a tensão do limite. E assim ela notou a pressa que o tomava e o faria acelerar tudo. O pavor a tomava.
Começou a empurrá-lo para longe e a fechar as pernas em defesa, mas ele não conseguia percebê-la. E por mais que a estivesse fitando o rosto, não enxergava o desespero de sua forma, o que a desesperava ainda mais. Ele não a prendia, porém também não a soltava. Até que ela o esbofeteou a cara e o fez despertar do transe. E enquanto ele se doía ao chão, ela saía deixando tudo para trás. Foi a primeira vez que ela deixara escapar uma vida.