domingo, 27 de dezembro de 2009

Quase tristeza

Meu coração bate atrasado. Os segundos ultrapassam a emoção. Está tudo reverso, errado. Não posso mais continuar assim. Um tumulto que me atordoa. Prefiro sentar no cantinho, encolhida em mim mesma. Preciso respirar... e lembrar-me de como dar o próximo passo.

Parece fácil partir, mas chegar a esse ponto é admitirmos a fraqueza dos nossos sonhos, o quanto nos precipitamos e cantamos vitória por algo ainda incerto. Queremos sempre ser mais espertos que o tempo e por vezes mergulhamos nessa ilusão sem medo de nos afogar, embora ela seja tão funda que não nos dê pé. Entramos sem saber como sairemos se for preciso. E será, inevitavelmente, mesmo que somente para respirarmos e tocarmos o chão por um momento. Não somos capazes de viver o presente na ilusão. Vivemos apenas um futuro que talvez se realize e nada mais. E o futuro não passa de um vazio cheio de incertezas, algo que só traz felicidade quando vira presente, o que decerto preenche. Pronto. O suficiente. Não desejamos mais que isso, essa é a verdade.

Queremos o prazer de nos sentir especiais, leves o suficiente para sentirmos o vento com a intimidade das aves, flutuar. Queremos a comprovação incessante de sermos únicos, enquanto não suportamos a idéia de estarmos únicos. Queremos tanto, porém sabemos que lutamos tão pouco. Costumamos esperar que o futuro caia do céu, que a pessoa certa cruze nosso caminho, nos arrebate, nos faça feliz... Contudo, não paramos para pensar que qualquer um possa ser essa pessoa. Certa ou não, depende do quanto estamos dispostos a investir nela. É tudo tão simples, mas pelo que parece a simplicidade não nos apetece. É-nos intragável.

Buscamos o mistério e fingimos querer resolvê-lo. É um espetáculo, cheio de movimentos consensuais e complicados dentro de um labirinto. A gente vê a saída, mas a ignoramos, como se de tanto rodopiarmos não conseguíssemos mais nos orientar. Não, não, ainda não é isso. Acho que temos a esperança de que a saída esteja logo ao lado, naquele corredor que deixamos por último e que ainda não olhamos por tantos motivos. Temos medo, afinal, de que a última curva nos revele nada além de outra parede, igual a todas as outras que nos rodeiam e orientam pelo caminho. Temos medo de que depois de tudo que nossa racionalidade traçou, haja apenas mistério. Talvez a vida seja isso mesmo, toda essa loucura, sem saída para nenhum de nós.

Soluço e aperto minhas pernas dobradas contra o peito. Sei que a única saída para o sofrimento será prosseguir a despeito das imprecisões da vida, e que as lágrimas cessarão daqui a pouco mesmo que voltem depois. O sorriso tomará meu rosto, não sei quando. Talvez quando minhas pernas vencerem o medo da próxima curva ou mesmo agora, para afastar as lágrimas. Sinto o cantinho dos lábios erguidos. Sorrio desses meus pensamentos errantes, que só aparecem quando não consigo sair do lugar. De algum jeito eles me movem, me agitam, lembram-me que o próximo passo não pode ser dado sem o paradoxo de cada dia.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Amigos

A palavra no silêncio conta a saudade que estava latente. Agora é tão clara a distância que havia na proximidade... Ah! Como é bom deixar que os novos cheguem e os velhos retornem, como vento em fim de tarde. Seus braços me envolvem em carinho, se encaixam tão bem, tão bem!

São a voz da opinião, o sorriso da força, os olhos da verdade, os braços do conforto, os ouvidos da compaixão e a companhia da segurança. Um jardim em multicores, uma valsa em samba, um arco que nos impulsiona e lança.

São poemas, lágrimas, intensidade e duração. São chama que, mesmo distante, me chama... para o Amor, para a Vida! O que sinto é filia fortalecida.

Ainda bem que percebi vocês a tempo. Sejam bem-vindos ao meu ser. Meu coração está feliz por recebê-los. E sabem o que mais? Estou começando a gostar disso.

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Aos amigos, que são descobertas sempre especiais.

sábado, 21 de novembro de 2009

Acontece às vezes e não avisa

"Não querendo chegar ridiculamente cedo ao trabalho, tomei o café da manhã lentamente. Um cereal de cada vez. Então, quando eu lavei os pratos, arrumei os imãs na geladeira em uma linha perfeita. Talvez eu estivesse adquirindo um transtorno obsessivo compulsivo.


Os últimos dois imãs - pedaços utilitários arredondados pretos que eram os meus favoritos porque podiam segurar dez folhas de papel na geladeira sem esforço - não quiseram cooperar com a minha fixação. As polaridades deles eram reversas; toda vez que eu tentava alinhar um deles, o outro pulava fora do lugar.


Por alguma razão - mania iminente, talvez - isso realmente me irritou. Por que eles não podiam simplesmente ser bonzinhos? Estúpida de teimosia, eu continuei a colocá-los juntos como se estivesse esperando que eles desistissem de repente. Eu podia trocar um de lugar, mas isso ia parecer uma derrota. Finalmente, mais exasperada comigo mesma do que com os imãs, tirei-os da geladeira e os juntei com as duas mãos. Exigiu um pouco de esforço - eles eram fortes o suficiente para sustentar uma briga - mas eu os forcei a coexistir, lado a lado.


'Vejam', eu disse em voz alta - falando com objetos inanimados, nunca um bom sinal - 'Não é tão horrível, é?'

Eu fiquei lá feito uma idiota por um segundo, sem ser exatamente capaz de admitir que eu não estava tendo nenhum efeito duradouro nos princípios científicos. Então, com um suspiro, coloquei os imãs de volta na geladeira, um centímetro separados" (MEYER, 2008, p. 50 - online, tradução não oficial).

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Eclipse.

sábado, 24 de outubro de 2009

La experiencia divina

Mi Dios no tiene nombre
Mi Dios no tiene nación
Mi Dios no tiene creencia
Mi Dios no tiene origen

Porque siempre estuvo acá
Pero sólo hoy lo pude mirar
Para mi no es entidad
Es más de lo que puedo alcanzar

Es la flor, el dolor
El amor y calor
Es duda y guerra
Es herida y piedra

Es palabra, es mi piel
Y mis huesos, la oscuridad
La sonrisa, es la voz
Las mujeres y mi libertad
Es los hombres, la niñez
Las ventanas y la soledad

No le puedo explicar,
Pues mi Dios no tiene leyes
Como mi racionalidad.

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A la Vida.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

"Num fuso de fiar espetarás o dedo e dormirás para sempre"

Como bem disse a professora, "uma herói é tão grande quanto seus inimigos". De fato não existe herói sem vilão nem há guerra quando a indiferença é a única que paira. Não brigo com quem não me importo, com quem não me afeta; e só.

Estou só, talvez porque eu não deixe a vida me tocar, e a distância constante entre mim e ela esmaece toda e qualquer relação. A troca, o toque, o tato, o todo; tudo atrofiando-se. Uma relação tecida num fuso de fiar afetos à distância, por linhas incapazes de preencher os vazios degenerativos do excesso de luz ou escuridão. Ambos me deixam sem visão.

E assim, pareço prosseguir com minha fiação, de fios-linha, fios-terra, fios-tentativa-de-comunicação. Em todo caso, não anseio ser herói, nem contudo deixar a vida passar-me indiferente. Apenas não desejo mais que meu fuso continue atrofiando-me.

domingo, 4 de outubro de 2009

Percepção assustada

Se a dor aparece e não sei como lidar com ela é porque não posso suportá-la. Mas dizem que podemos, embora neste exato momento eu insista que não. Tudo o que eu queria era saber como aguentar o poder da razão, que me desnorteia perante a responsabilidade da decisão.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Discutindo a relação

Não, não é tão simples assim.
A vida rola pelos dedos mortos de luz; olofotes que procuram o culpado. A claridade é intensa, ofusca os brilhos tímidos de coragem... e a compaixão se vai, na verdade passa de raspão, ninguém a vê. Não toca aqueles que sabem proferir os discursos ávidos e cheios de morte no tom de ódio da voz. Enviesados eles me parecem.

Cortantes, coesos, coercitivos, cheios de divergências e idéias. Falar é sempre bom; Abrir o grito para que todos possam ver o que estava entalado, escondido na boca das relações sociais.

Eu não tenho nada a ver com isso, grita alguém lá do fundo. Nem eu, o outro concorda. Mas eu tenho, eu acho que tenho.

Não, eu não fiz nada, mas quem fez está entre nós, faz parte de tudo isso, de um tudo grupo e do qual todos querem se abster.

Nada aqui está errado. Cada vez mais posso ver que os outros têm seus próprios umbigos, que realmente estava na hora da peteca cair, da gota d'água sacudir nossa tensão superficial. Entramos em processo de transbordamento. Só espero que não nos percamos neste meio fio.

sábado, 15 de agosto de 2009

Uma briga que ainda não saiu do papel

Eu tenho raiva no grito,
nas veias,
nas dobras do meu corpo.

Tenho raiva de berro,
de choro,
de dentes mais que trincados.

Tenho raiva do quase,
do disfarce,
do destoar de valores.

Tenho raiva desse lance,
constante,
de só conseguir me afastar de você.

Tenho raiva dos detalhes,
das suas letras,
dos nossos olhares.

Tenho raiva dos significados-facadas
das suas palavras,
ingratas.

E tenho raiva porque sei
que 'me desculpe' e 'obrigada' não são lei.
Por isso, ouvi-los de você, jamais esperarei.

Raiva...
que me faz lançar palmos demais na minha frente,
Raiva...
dos meus tapas
que nunca alcançam
sua cara arrogante.

Raiva...
de destroçar-me pela ambiguidade
do querer-te cerca e enxotar-te.
Raiva...
por não conseguir aproximar-me.

Então decido
que renuncio à sua amizade,
azeda, dúbia, mimada.
Pois odeio,
odeio sua hostilidade.

E quanto aos papéis,
a todos aqueles que interpretou,
junte-os, amasse-os,
risque-os, rasgue-os,
destrua-os, descarte-os;
enfie-os num triturador.

Depois, jogue-os no ventilador,
para que sinta
como é ser atingida
pelos seus papéis...
egoístas, grosseiros, infiéis.

domingo, 26 de julho de 2009

Afetar

Tu me afetas.
Ele não me afeta.
Mas, eu afeto?
Eu te afeto?
Só sei que o afeto.

Tu me afetas.
Ele, não me importo se não me afeta.
E eu, afetada, te afeto?

Só desejo que saibas:
não queria ter deixado
teu afeto
afetar o meu,
pois, afetado,
meu afeto vira teu.
E teu afeto,
ansiado pelo meu.
Afinal,
deixarás que meu afeto
afete o teu?

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Minuto-cárcel

El viento, no puedo sentirlo. Apoyo mi mano en el vidrio que separa mi mundo del resto de vida que no tengo acceso. Todo allá parece más vívido y más feliz. Los colores tienen más luz, las personas sonríen más, el cielo tiene menos nubes, el sol es más acogedor.

Quiero cambiar de lado, tocar las personas que por detrás de mi redoma caminan sin limitación aparente. Quiero salir de aquí, romper este más que inoportuno cárcel.

A veces grito… intento inútil. No lo hago más. Nadie puede oírme, aunque parezca mentira. Los sonidos de afuera a mi llegan perfectos, pero noto que las personas no hablan. Sus labios están siempre cerrados, a menos que estén sonriendo. ¿Hay motivos para sonreír, sin embargo, en un mundo sin voces?

Todos siempre caminan, caminan, caminan, como si continuamente estuvieran yendo a lugar ninguno o a todos los lugares. Y yo acá, en medio de esta contradicción, inmóvil, detenido. ¡Siquiera alguien puede verme! Soy indignadamente invisible.

Mi única diversión, o mejor, distracción, es fingir que las personas pueden notarme. La verdad, sin embargo, es que a mi no me gusta más pasar el tiempo así. Ya me he cansado.

Ahora, por ejemplo, veo una nena que por acaso está mirando en mi dirección, en dirección de mi redoma. Pero sé que no logra percibirme. Estas casualidades me hacen sentirme importante. Es casi mágico mirar en los ojos de alguien que parece también estar mirando en los tuyos. Es como que sentirme existente. Pero estoy solo y sólo soy experiencia para mí.

Y como todos los otros, ella mírame y ‘desmírame’, y sigue su camino, sin mirar atrás. Pues el atrás es un lleno vacío: yo. Soy sólo un simple minuto en vidas que no sepan verme. O tal vez, aquellas vidas, aquellas miradas disimuladas, sean los minutos que me hacen verme como un alguien más que un encarcelado invisible. Minutos que hacen de mi existencia una pseudo-vida.

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Texto revisado por Ivan González, de Mar del Plata, Argentina.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Nós em verso e vice-versa

Nesga de escrito que me empolga.
O brega que você não nega nos conjuga.
E canto e suga e aperto e afaga e gosto.
Fato.
E o nosso tango briga,
Implora, às nossas pernas que o dancem, a grito.
A gente não nega:
O tango ainda não nos é talento.
Então a gente joga.

Você chega, me pega
E num aperto me enverga.
No estreito seu hálito me prega.
Suspensão de espírito infinito
Tão perto...
Um envolto, meu manto.
Agito, tilinto, sinto que derreto.
E você me carrega, hirto.

Seu peito me aconchega.
Te quero, te aperto.
Espreito e sei que te afeto.
Envolvimento que apega.

Percebo tartarugas na barriga.
Aquieto-as com o que está na adega.
Tinjo o que sinto com vinho tinto.
Se estou gaga escrevo a roxo sobre quem me importo.
Meu sentimento,
Se um dia foi assaz, agora é lauto.

Vejo-me embargar neste encanto.
Quase não me aguento.
E para confessar, busco no intangível meu alento:
Embora psicóloga,
De desrazão tenho meu momento.
Se esvai meu pensamento.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Expectativações

Esqueci de notar que depois de tanto tempo voltei a 'expectativizar'. Auto-concessão do direito de fazer mais faíscas para me afetar. Pena que na lembrança só me reste o viver na espera de tudo sem esperanças especificar. Útil maneira de não me frustrar. Em termos...

É bom deixar que tijoladas me atinjam quando auto-permitido. Esperar não necessariamente é sonhar alto demais. Geralmente é prever as mais prováveis ocorrências. Um galo na cabeça, no mínimo, a cada tijolo bem sucedido.

Partindo daí, não mais enxergo frustrações como algo a, inexoravelmente, reclamar. É uma forma de sentir que deveras espero algo afetador desta vida, que de fato quero sentir ousadias, quero investir energias em certos alguéns.

Assim escrevo porque atualizei minha lista, já mofada, de frustrações. Enfim. Por mais que isso doa nada se compara a perceber-me, de sentimentos, viva. Reesperancei minha própria maneira de 'expectativizar'. Estou mais calma pela agonia.

Que, assim, esperanças, expectativas, tijoladas, dores, frustrações, venham ao sol brindar o cheiro de guardado que se foi. Saúde às expectativações. Tim-tim.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Gosto

ELE
Deslizava como bola de neve pelo seu queixo a gota bonita e vermelha. No rastro, havia o suco perdendo a cor, cada vez mais, até chegar na curva do lábio e então nos dentes e, enfim, na fruta. E a fruta teve seu caminho até lá. Nasceu de um pé de longe, e foi parar em uma mão bem perto de mim. Não era a minha mão, embora eu queira chamá-la de minha. A fruta, se partindo, fazia suco e o suco, escorrendo, fazia voltas na minha cabeça, por conta dos meus olhos que viam aquilo tudo em câmera lenta. Nessa hora eu lembrei do sabor que eu sabia identificar quando era criança. Lembrei o gosto da fruta que eu não consigo mais comer. Lembrei como saber era engraçado. Lembrei como fruta é coisa boa. Voltei para a minha cena em câmera lenta e, nesse momento, prestava atenção nas maçãs do rosto dela. Das covas que haviam embaixo delas, como covas que se faz para plantar pé de fruta. Não conseguiria mais me concentrar para terminar de almoçar.

Ainda tenho fome, embora não queira mastigar. Mas vendo aquele quase suco escorrendo por aquelas covinhas e pedindo para ser provado, degustado pela minha língua, percebi que o que eu sentia era fome. Estou com fome de gosto. Do gosto de sentir o seu cheio no meu paladar. É disso que gosto, do verbo gostar. Gosto quando você finge estar perto só para me alegrar. Quando passa ligeira e deixa a minha boca saturada do seu ar. Ele entra faminto pelas narinas sedentas, ansiosas por te condensar em gotículas que descem discretas até virarem gosto no meu paladar. E sinto fome. A fome do ar. E te degusto. E gosto disso, da fome de te gostar.

ELA
E sinto, entre gostos e burburinhos, algo escorrendo pelo meu queixo. Uma gota. E ela se desprende e segue rente a sei lá o que, porque olhei para baixo rápido demais na inútil tentativa de impedí-la de... Agora é tarde. Aquela gota de acerola diluída marcou minha calça jeans. No fundo, nada demais. Nem deu para desesperar. Mas de tão atenta, pude sentir a gota deixando-se absorver pela calça, e tocando minha pele. Fiquei arrepiada. Um calafrio que partiu da nuca e me tremeu todinha. E tive certeza. Eu estava sendo observada. Petrifiquei e tentei com os olhos encontrar a mesa em que ele estava. Mas meus óculos atrapalharam; visão periférica afetada. Suspirei, ignorei a gotícula incomodante e reconcentrei-me na bandeja ainda cheia de comida que agora não queria mais comer. Perdi a fome. O problema é que eu sabia, ele estava lá. E isso enchia meu estômago de tartarugas. Estranhamente, senti meu coração palpitar. Eu estava dormente.

De fato, não sinto meu corpo daqui. Sinto o tempo escorrendo entre meus dedos, como água de chuva que a gente tenta beber. O tempo passa entre os corredores, pára rapidamente e olha enquanto comemos, mas logo se esvai de novo, antes de conseguirmos olhá-lo. Olho para o relógio. Não estou atrasada. Eu acho engraçado o jeito que ele pensa que eu não sei que ele me olha quando não estou prestando atenção. Ou quando meu rosto fica vermelho... O tempo começou a passar rápido, nos últimos dias; as maiores filas não incomodam mais. A gente bebe suco de minutos, enquanto rimos horas inteiras em um segundo. Não sinto meu corpo daqui. Talvez isso passe quando terminarmos e começarmos a andar aqui por perto, assim que nos encontrarmos lá fora por acaso. Então meu sangue vai circular melhor, minhas pernas irão se mexer melhor, meu corpo todo vai balançar, naquele ritmo gostoso de caminhada sem olhar para o tempo.
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J.P.

domingo, 12 de julho de 2009

Lentiflor com orégano

Assim como a comida combinada quase que por acaso, num ímpeto de ousadia, a escrita é codificada por pitadas letrinas buscando contexto que as deixe aflorar em palavras-sabores, palavras-comidas. De fato, às vezes elas se comem, se provam e, como hoje, em minha panela, se aprovam. Palavras e comidas unidas por sua função; ambas significativas, ambas alimentação.

Os gostos verdes de lentilha e couve-flor, em ferventes aromas, faziam vapor nos azulejos velhos da cozinha. E na mesma panela, os verdes da lenti com os quase brancos da flor pediram um toque a mais de sabor. Selando, assim, essa pseudo-invenção, uma pitada de orégano naquele verde-emoção. Estava pronta a prosa, as palavras em comidas misturadas, fundidas e resignificadas, num plural singular. E assim batizo minha produção: Lentiflor com orégano. Pronta para ser compartilhada com apreciadores de reinvenções.