domingo, 28 de janeiro de 2018

Até não dar mais pé

Ir fundo. Sustentar-me nas profundezas. Não sei nadar. Sempre me mantive no raso, flertando com a parte mais funda. Ouso caminhar em direção ao que não dá pé, mas paro antes de me tirar o chão. Por quê? Por que achar que do chão não passo? A morte do corpo é certa e, em carne, não me penso em outro destino senão o subsolo. Por que acredito que o solo é concreto demais para deixar de ser? O que dizer dos terremotos, então?

A vida é sábia. Até posso aprender com as contradições que ela espelha em mim, mas não é fácil. Ser humana é ser bicho estranho que, onde pensa, acha que se sabe, mas onde não sabe que pensa, se é.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Presente

A chuva cai inabalável. Tranquila. Quente. Verão. O horizonte se dissolve no mar e a tarde finda leve feito raio de sol.

As folhas se balançam contidas, como minhas certezas recém-criadas. A dúvida pesa como a respiração em dias úmidos. A incerteza vem em ondas rasteiras.

Borboletas vêm me visitar convocando-me a amar e a lidar com meus receios.

O que sinto sabem as flores. Elas me expressam melhor do que sei.

Saudade é terra fértil que me faz crescer.