domingo, 26 de julho de 2009

Afetar

Tu me afetas.
Ele não me afeta.
Mas, eu afeto?
Eu te afeto?
Só sei que o afeto.

Tu me afetas.
Ele, não me importo se não me afeta.
E eu, afetada, te afeto?

Só desejo que saibas:
não queria ter deixado
teu afeto
afetar o meu,
pois, afetado,
meu afeto vira teu.
E teu afeto,
ansiado pelo meu.
Afinal,
deixarás que meu afeto
afete o teu?

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Minuto-cárcel

El viento, no puedo sentirlo. Apoyo mi mano en el vidrio que separa mi mundo del resto de vida que no tengo acceso. Todo allá parece más vívido y más feliz. Los colores tienen más luz, las personas sonríen más, el cielo tiene menos nubes, el sol es más acogedor.

Quiero cambiar de lado, tocar las personas que por detrás de mi redoma caminan sin limitación aparente. Quiero salir de aquí, romper este más que inoportuno cárcel.

A veces grito… intento inútil. No lo hago más. Nadie puede oírme, aunque parezca mentira. Los sonidos de afuera a mi llegan perfectos, pero noto que las personas no hablan. Sus labios están siempre cerrados, a menos que estén sonriendo. ¿Hay motivos para sonreír, sin embargo, en un mundo sin voces?

Todos siempre caminan, caminan, caminan, como si continuamente estuvieran yendo a lugar ninguno o a todos los lugares. Y yo acá, en medio de esta contradicción, inmóvil, detenido. ¡Siquiera alguien puede verme! Soy indignadamente invisible.

Mi única diversión, o mejor, distracción, es fingir que las personas pueden notarme. La verdad, sin embargo, es que a mi no me gusta más pasar el tiempo así. Ya me he cansado.

Ahora, por ejemplo, veo una nena que por acaso está mirando en mi dirección, en dirección de mi redoma. Pero sé que no logra percibirme. Estas casualidades me hacen sentirme importante. Es casi mágico mirar en los ojos de alguien que parece también estar mirando en los tuyos. Es como que sentirme existente. Pero estoy solo y sólo soy experiencia para mí.

Y como todos los otros, ella mírame y ‘desmírame’, y sigue su camino, sin mirar atrás. Pues el atrás es un lleno vacío: yo. Soy sólo un simple minuto en vidas que no sepan verme. O tal vez, aquellas vidas, aquellas miradas disimuladas, sean los minutos que me hacen verme como un alguien más que un encarcelado invisible. Minutos que hacen de mi existencia una pseudo-vida.

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Texto revisado por Ivan González, de Mar del Plata, Argentina.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Nós em verso e vice-versa

Nesga de escrito que me empolga.
O brega que você não nega nos conjuga.
E canto e suga e aperto e afaga e gosto.
Fato.
E o nosso tango briga,
Implora, às nossas pernas que o dancem, a grito.
A gente não nega:
O tango ainda não nos é talento.
Então a gente joga.

Você chega, me pega
E num aperto me enverga.
No estreito seu hálito me prega.
Suspensão de espírito infinito
Tão perto...
Um envolto, meu manto.
Agito, tilinto, sinto que derreto.
E você me carrega, hirto.

Seu peito me aconchega.
Te quero, te aperto.
Espreito e sei que te afeto.
Envolvimento que apega.

Percebo tartarugas na barriga.
Aquieto-as com o que está na adega.
Tinjo o que sinto com vinho tinto.
Se estou gaga escrevo a roxo sobre quem me importo.
Meu sentimento,
Se um dia foi assaz, agora é lauto.

Vejo-me embargar neste encanto.
Quase não me aguento.
E para confessar, busco no intangível meu alento:
Embora psicóloga,
De desrazão tenho meu momento.
Se esvai meu pensamento.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Expectativações

Esqueci de notar que depois de tanto tempo voltei a 'expectativizar'. Auto-concessão do direito de fazer mais faíscas para me afetar. Pena que na lembrança só me reste o viver na espera de tudo sem esperanças especificar. Útil maneira de não me frustrar. Em termos...

É bom deixar que tijoladas me atinjam quando auto-permitido. Esperar não necessariamente é sonhar alto demais. Geralmente é prever as mais prováveis ocorrências. Um galo na cabeça, no mínimo, a cada tijolo bem sucedido.

Partindo daí, não mais enxergo frustrações como algo a, inexoravelmente, reclamar. É uma forma de sentir que deveras espero algo afetador desta vida, que de fato quero sentir ousadias, quero investir energias em certos alguéns.

Assim escrevo porque atualizei minha lista, já mofada, de frustrações. Enfim. Por mais que isso doa nada se compara a perceber-me, de sentimentos, viva. Reesperancei minha própria maneira de 'expectativizar'. Estou mais calma pela agonia.

Que, assim, esperanças, expectativas, tijoladas, dores, frustrações, venham ao sol brindar o cheiro de guardado que se foi. Saúde às expectativações. Tim-tim.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Gosto

ELE
Deslizava como bola de neve pelo seu queixo a gota bonita e vermelha. No rastro, havia o suco perdendo a cor, cada vez mais, até chegar na curva do lábio e então nos dentes e, enfim, na fruta. E a fruta teve seu caminho até lá. Nasceu de um pé de longe, e foi parar em uma mão bem perto de mim. Não era a minha mão, embora eu queira chamá-la de minha. A fruta, se partindo, fazia suco e o suco, escorrendo, fazia voltas na minha cabeça, por conta dos meus olhos que viam aquilo tudo em câmera lenta. Nessa hora eu lembrei do sabor que eu sabia identificar quando era criança. Lembrei o gosto da fruta que eu não consigo mais comer. Lembrei como saber era engraçado. Lembrei como fruta é coisa boa. Voltei para a minha cena em câmera lenta e, nesse momento, prestava atenção nas maçãs do rosto dela. Das covas que haviam embaixo delas, como covas que se faz para plantar pé de fruta. Não conseguiria mais me concentrar para terminar de almoçar.

Ainda tenho fome, embora não queira mastigar. Mas vendo aquele quase suco escorrendo por aquelas covinhas e pedindo para ser provado, degustado pela minha língua, percebi que o que eu sentia era fome. Estou com fome de gosto. Do gosto de sentir o seu cheio no meu paladar. É disso que gosto, do verbo gostar. Gosto quando você finge estar perto só para me alegrar. Quando passa ligeira e deixa a minha boca saturada do seu ar. Ele entra faminto pelas narinas sedentas, ansiosas por te condensar em gotículas que descem discretas até virarem gosto no meu paladar. E sinto fome. A fome do ar. E te degusto. E gosto disso, da fome de te gostar.

ELA
E sinto, entre gostos e burburinhos, algo escorrendo pelo meu queixo. Uma gota. E ela se desprende e segue rente a sei lá o que, porque olhei para baixo rápido demais na inútil tentativa de impedí-la de... Agora é tarde. Aquela gota de acerola diluída marcou minha calça jeans. No fundo, nada demais. Nem deu para desesperar. Mas de tão atenta, pude sentir a gota deixando-se absorver pela calça, e tocando minha pele. Fiquei arrepiada. Um calafrio que partiu da nuca e me tremeu todinha. E tive certeza. Eu estava sendo observada. Petrifiquei e tentei com os olhos encontrar a mesa em que ele estava. Mas meus óculos atrapalharam; visão periférica afetada. Suspirei, ignorei a gotícula incomodante e reconcentrei-me na bandeja ainda cheia de comida que agora não queria mais comer. Perdi a fome. O problema é que eu sabia, ele estava lá. E isso enchia meu estômago de tartarugas. Estranhamente, senti meu coração palpitar. Eu estava dormente.

De fato, não sinto meu corpo daqui. Sinto o tempo escorrendo entre meus dedos, como água de chuva que a gente tenta beber. O tempo passa entre os corredores, pára rapidamente e olha enquanto comemos, mas logo se esvai de novo, antes de conseguirmos olhá-lo. Olho para o relógio. Não estou atrasada. Eu acho engraçado o jeito que ele pensa que eu não sei que ele me olha quando não estou prestando atenção. Ou quando meu rosto fica vermelho... O tempo começou a passar rápido, nos últimos dias; as maiores filas não incomodam mais. A gente bebe suco de minutos, enquanto rimos horas inteiras em um segundo. Não sinto meu corpo daqui. Talvez isso passe quando terminarmos e começarmos a andar aqui por perto, assim que nos encontrarmos lá fora por acaso. Então meu sangue vai circular melhor, minhas pernas irão se mexer melhor, meu corpo todo vai balançar, naquele ritmo gostoso de caminhada sem olhar para o tempo.
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J.P.

domingo, 12 de julho de 2009

Lentiflor com orégano

Assim como a comida combinada quase que por acaso, num ímpeto de ousadia, a escrita é codificada por pitadas letrinas buscando contexto que as deixe aflorar em palavras-sabores, palavras-comidas. De fato, às vezes elas se comem, se provam e, como hoje, em minha panela, se aprovam. Palavras e comidas unidas por sua função; ambas significativas, ambas alimentação.

Os gostos verdes de lentilha e couve-flor, em ferventes aromas, faziam vapor nos azulejos velhos da cozinha. E na mesma panela, os verdes da lenti com os quase brancos da flor pediram um toque a mais de sabor. Selando, assim, essa pseudo-invenção, uma pitada de orégano naquele verde-emoção. Estava pronta a prosa, as palavras em comidas misturadas, fundidas e resignificadas, num plural singular. E assim batizo minha produção: Lentiflor com orégano. Pronta para ser compartilhada com apreciadores de reinvenções.