domingo, 16 de junho de 2019

Demaquilante

Uma casa meio arrumada, um chão meio limpo. Ela… que dizia não gostar mais de maquiagem. Incandescente, a lâmpada aquece a noite de ventania. A fluorescente não acende mais, apenas quando quer. E nesse frio, nessa solidão… ela não quis. Sentada à mesa o dia passou, instável. Atormentada por suas dúvidas descobriu que sofre de escolhas. De toda ordem. Lembrou-se de quando pensou, de relance, há mais de uma década, que deixar de escolher poderia levá-la a um lugar onde viria a descobrir que queria estar. Sabia, porém, que um dia, teria de se perguntar qual a sua parte nas escolhas que não fez. E aonde isso a levou. Às vezes, concluía estar aprisionada. Não existe pausa real para realizar uma escolha. A vida sempre continua para algum lado. Era boa de persistir, mas ruim em descobrir em que persistia tanto. Apenas seguia, aguentava firme e não desistia. O propósito da sua vida nunca lhe foi claro. Era dividida. Sempre no raso, mas intensa. Teimosa, mas exigente. Escondia tudo isso de todos, quase até de si mesma. Parecia bem-sucedida. Enchia seu dia para mostrar o quanto podia, ou apenas evitando o tempo. A pausa. A dúvida. A dor. Ela… que dizia não usar mais maquiagem.

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