segunda-feira, 11 de junho de 2018

Prosa de cinco faces

Agora só sei cantar. Falar em cifras. Pareço esquecer-me de como se escrevem as prosas da vida.

Dizem que intuir é belo. O modo como algumas pessoas apenas sabem, sem muito saber. Os chamados artistas prontos. Sim, é belo. Como o frescor da manhã antes do sol despontar. Aquele ar que entra e te leva para outro lugar. Dá vontade de amar. 

Ontem quis te amar. Mesmo sendo noite o ar da manhã estava entre nós. Vindo dos meus cabelos e do seu sorriso. Seus óculos me lembraram de alguém que amei. Aquela lembrança sem encaixe, feito tampa que entorta com o calor. Não gostei, mas achei graça quando os mesmos óculos fizeram de você uma versão caricata de um personagem de cinema. 

Você cresceu. Não é algo físico, embora me afete fisicamente. Virou homem. Isso não é para soar como a tia babona. Simplesmente, você vibrou em outro tempo, soou em novo tom, tomou outro corpo de si mesmo. Foi belo. Eu quis estar perto, experimentar, tocar. Diriam que te vi com outros olhos. É uma boa frase, até em sentido literal. Assim como você virou homem, eu me tornei mulher. Torno-me a cada dia. Então meus olhos que te viram muito tempo atrás não são mais meus. Embora sempre a mim pertencentes, eu não pertenço mais àqueles meus olhos. Venho trocando-me, incessantemente, de mim. Talvez viver seja isso.

O tempo é espelho. Faz a gente se olhar e se ver. Assim me enxergo mulher. E te vejo melhor.

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