domingo, 3 de novembro de 2013

Ama(rra)da

Virou-a do avesso. Viu o que apenas ela até então percebera. Contou-a do que ela não havia nomeado em si mesma. Pediu com destreza e insistência que ela se entregasse. Ela resistiu pelas beiradas. Ele quase a invadia. Entrou por empurrões e licenças, revirou detalhes, notou tudo que seus olhos puderam capturar, como se sentisse que não ficaria por muito tempo. Quis tocar em tudo, mas não pôde sentir o que não fora por ela dito. Se ele, já por si, a revelava, ela então não o deixou tocar naquilo que, para ser visto, precisava ser, por ela, dito. Então, decidiu, ela, calar-se um pouco mais. E quase muda ficou. Mas seus olhos expressavam o seu debater e seu corpo pedia-lhe que suas palavras lhe dissessem o que desejar.
Ele a viu, a tocou e a contou como foi. E quando partiu, fechou a porta atrás de si deixando a casa revirada. Levou lembranças que eram pra ser só dela, mudou os cantos de lugar, tocou nas delicadezas daquela mulher, forçou palavras, olhou-a de um jeito só dela. Quis ser ela por um instante para entendê-la por completo. Ele quis varrer até as poeirinhas que ficam no canto, só para lhe dizer o que há por debaixo. Como se ela não soubesse. Como se ela quisesse saber ou que alguém a soubesse. Ele então percebeu que os detalhes eram apenas muitos e que nem sempre explicavam qualquer coisa. E percebeu que nem se fosse ela a entenderia. E não quis acreditar em mais nada que dela vinha.
Virou-a do avesso e se foi.
Ela ficou. A se revirar.

4 comentários:

  1. Suas palavras vem tao carregadas de sentimentos, e me pergunto, por que parecem um pouco tristes ? como um grande desabafo, apesar de lindas.

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  2. Não me canso de te ler, tanto que até me afoguei nessa tua profundidade!

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