domingo, 18 de julho de 2010

Abrindo o cofre

Eu ri do meu papel que por sinal não era meu. Era um outro, um alguém artista interpretando num filme o personagem que na vida real será meu. Já é, antes mesmo que seja.

Sei que não está fazendo sentido, mas não se preocupe: é catarse. Se alguma coisa isso incitar em você já é suficiente. Se não incitar nada, melhor ainda. Porque não digo isso para que alguém entenda ou escute. Certo. Então por que estou publicando? Porque o fato de não ser eu mesma que estou escrevendo com esses dedos que costumo dizer que são meus, me dá a coragem de jogar a qualquer um, a qualquer todos ou nenhum o que ultimamente não tenho dado conta de pôr em sentidos.

Isso parece que fala de mim, mas não sei bem se é disso mesmo que fala. As palavras aqui contam uma estória que quer existir e contar-se a si própria. E aqui estou apenas assistindo-a. Não há cronologia, esqueça essa piada de começo, meio e fim. Não há nada disso; nada de palpável aqui. As palavras já quase explodem por se deixarem ser ditas.

Como eu disse, ri do papel, daquela encenação toda que me dá saudade e repulsa, raiva e angústia do está por vir. E ainda tento me consolar dizendo-me que, apesar de toda dor, acordar todos os dias já é a real felicidade - o que acalenta o coração. E já fui tola o bastante para acreditar que isso é suficiente. Às vezes é - não há como negar; depende do humor. E meu humor ultimamente não anda nada bem. Não há graça nem vontade. Felicidade é o cruzar de braços diante do dia: o tédio. Ela foi dar uma voltinha e se perdeu pelo caminho; ou quem sabe de louca foi presa numa clínica psiquiátrica. E pior: talvez eu tenha até assinado os papéis permitindo seu enclausuramento, seu apartar de minha vida.

Como eu disse, eu ri da possibilidade patética que eu posso me tornar, da dor aguda pela qual me recuso um dia a gritar, do desgosto que destempera cada olhar, cada foco e portanto, o mundo inteiro contruído com a razão de meus sentidos. Ah! Como agora eu queria que eles não tivessem razão! Mas querer desse modo é abraçar o impossível e se entregar a ele, ao inevitável, à tragédia, à mesmíssima tecla. Merda.

Como eu disse, eu ri. E pra quem olha de fora não importa o motivo... e mesmo se eu explicasse não faria sentido, porque pela primeira vez percebo que explicar faz perder o que sinto e se for pra perder isso, eu prefiro me calar. E às vezes acho que estou aprendendo isso tão direitinho que já não sei mais o que é amor nem grito. É tudo raiva, não sei se porque a felicidade me deixou ou porque fiz pouco dela. Mas sei que é por bem mais do que isso, mas mais do que isso eu não sei.

Eu ri, tentando transformar em raiva o desespero.

Eu ri, tentando espantar da raiva o meu medo - que não quero tanto assim que seja meu.

Eu ri, mas agora eu não rio mais.

2 comentários:

  1. Felicidade é o cruzar de braços diante do dia: o tédio.
    O tédio é satisfação, é alcançar objetivos ao ponto de não haver mais objetivos a se buscar e então, o nada invade. Felicidade singular é o tédio desses dias, que vai e vem. Felicidade é melhor no plural, por pequenas e graciosas vitórias que fazem mais sentido mesmo que não sejam úteis.

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  2. é noite agora e enquanto eu lia seu texto, me senti viva como eu sempre disse que gostaria de me sentir. Alguma coisa se chamou felicidade enquanto eu te lia. Algo da ordem de uma gratidão não só por conviver com quem escreveu o que escreveu. Mas por conseguir sentir o que está escrito. Não, o texto não me incitou. Incitar é pouco perto da palavra sentir. Sentir as palavras da Paula é sentir as palavras.

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