quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Dormideira

Estava triste de se perceber. Naquele dia tendia tanto para o sim que se afastava de propostas. Tinha receio de se perder e encontrar-se de ponta cabeça.

Estava em aflição. Seu coração se confundia em si mesmo e os afetos não achavam a saída. Sentia-se feita de boba, trapaceira de si mesma. Não sabia se estava em si ou se já era outra. Se estava dentro ou fora.  Via-se sem se encontrar. Enxergava  a dor com o tato, feito criança, que pra ver tem que tocar.

Às vezes fosse isso, pensou.  Talvez eu tenha virado criança de mim sem precisar me apequenar. É melhor do que entristecer. E assim decidiu que seria, até que o perigo passasse e conseguisse se desencolher.

sábado, 5 de setembro de 2015

Me-te-se-nos ou Tempos Verbais


Hoje estava perigosa, com medo de si. Solta, gostosa, querendo mais. Prazer em si mesma já conseguira. O que queria mesmo eram outros braços, outras pernas... Outra pele. Queria o detalhe, a surpresa do ato. Algo diferente do que fosse seu. Aquele puxão, arranhão, um tapa de tesão. Dedo na boca entre beijos de se perder... e se achar sendo outra de si.

Ela queria sorrir de gargalhar. Permitir-se. Dizer 'tanto faz' ao escolher os melhores desejos carnais. Realizar. Arrebatar. Ser verbo, para conjugar. Porque ela quer aquele que conjugue o singular no plural. Ela quer outro eu em nós que se saibam desatar.

Agora ela está livre, segura em si. Esta noite dormirá com seus desejos no futuro do presente; pois ela quer tudo, não qualquer coisa.