quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Sem resposta

A gente sabe que não dá mais para ser assim, desse jeito sem fala, sem mais olho no olho. A gente sabe que as marcas estão pintadas na pele e sabemos além da sensação de colorir nossos momentos com as pontas dos dedos e sorrisos disfarçados. A gente sabe que esta distância não se trata de utopia declarada. Uma longidão que nos faz esquecer que um dia fomos acessíveis.

A gente talvez não saiba o motivo dessa trajetória, o que nos faz achar que por isso não sabemos nada. Uma grande falácia. Porque sei do meu corpo e ele está magoado por obra da expectativa. Porque sei que mesmo em dor sem motivo comprovado, faço um esforço para enxergar você na experiência.

Ai, ai... será que o que sinto é falta? Talvez eu ainda não precise de suas palavras. Sua presença agora já me responderia. Mas não vou correr a seu encontro. De algum modo estou fraca, com medo de cair e preferir o chão. Porque amar é estar disposto. E não sei se estamos.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

De roupa suja

Esfregava tensamente tentando apagar vestígios de corpo. E o cheio que deixava de subir era o mesmo que pretendia esquecer enquanto o lembrava pela última vez. As mãos 'embarulhavam-se' na fricção, num subir e descer que menos cansava que saciava, ou melhor, que por cansar parecia acalmar a fome gutural que a fazia salivar. Na verdade, espumava... por unhas e dentes. E abria a corrente-água, deixando-a cuidar do frescor que anseava curtir.

Simplesmente deixava-se esquecer do esforço de ser borracha por uns poucos instantes hipnóticos de exaustão, mas logo retornava aos movimentos violentos de esfregões, apertões, torções e mais quantos 'ões' seus dedos e mãos fossem capazes de fazer. Um exercício de explosão e vocalizações esporádicas, às vezes acompanhadas  de pesados socos. Ocos.

Aquilo doía. O que não importava, enquando o passado ainda estivesse tão presente a ponto de não haver diferença entre a dor de ontem e a que emanava agora de cada milímetro daquelas mãos. Sempre gostou de dizer, e fazia questão: dor é sempre física. Machuca, fere, sangra...

Seus dedos pingavam agora, quase como pingavam seus olhos.

domingo, 22 de agosto de 2010

Contradição?


Escrevo para respirar, mas quando falta em demasia o ar, sequer consigo digitar.

Sei, entretanto, que o que me falta é inspirar - mas no momento não me lembro como.
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Aos bloqueios que a vida às vezes oferece à escrita.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Movendo

Não espere que eu saiba o que escrevo, sinto ou vejo.
Sei apenas do receio do desejo
do seu beijo.

Não espere que eu deseje sem receio.
Se ajo é por não haver rodeio.

Não espere que eu não entre em desespero.
Com a calma vem o medo sorrateiro.

Não espere simplesmente que eu espere.
Paciência até o ponto que me fere.

Não espere, porém, que esse ponto se conserte.
Se houver ferida haverá o que não se reverte.

Não espere.
Venha, mesmo que demore.
E dure,
mesmo que devore.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Durante

Deslizava a sensação da sua mão sobre a minha. O que é pouco, perto de você ao redor de mim, dos seus braços dançando nas minhas costas, dos seus dedos dizendo olá à minha nuca.

Não espere que eu ponha em palavras o que me fez sentir naquela dança de duas músicas. Foi tudo de nós. Você mexeu em mim e comigo, sem dizer uma palavra sobre isso. E passou, registrando-se em minha vida, sem que tocássemos no nosso silêncio.

Eu não entendo e talvez não faça questão de tentar entender. Acho que estou percebendo que realmente não é isso que quero, pela primeira vez. Quem sabe tê-lo aqui já me bastasse. Mas não quero que me baste. Quero que me sinta como acho que foi capaz de me sentir naquele dia aparentemente afásico, em que nos faltou o que fosse, menos presença. Eu pude sentir você e sei que alguma coisa permanece, embora eu não saiba dizer o quê.

Confesso que não estou inspirada para grandes textos nem explicações. Estou é segurando as rédeas do meu corpo, para não descompassar o coração.

Você me desengrena, ainda que eu não saiba exatamente o que isso signifique.