Essa palavra aí saiu sem querer. Curiosamente, pois me sinto sem palavras quando, de repente, meus dedos criam uma absurda, ato falho. Freud há de saber.
Sinto-me sem palavras. E um ser sem palavras é pobre de dizer, de vocabular, conectar. Um ser sem palavras é pobre e tudo o que eu queria é riqueza. Essa riqueza que toca fundo o ser, as células, o dizer.
Sinto-me sem palavras. Isso me entristece, feito humano que se encolhe, só, se recolhe ao silêncio de quem não sabe expressar. Parece que emburreço de perder palavras, de não saber dizer. Palavra é riqueza de quem sabe formar o que sente. Feito bolo que cresce, rico em histórias e sabores. E sai lindo da forma. Perfeito.
Sinto-me sem palavras. Como nunca antes senti tanto. E me pergunto se a pobreza é de sentir ou de dizer. Se é dos afetos ou dos sons. Se o que me falta é sentir ou sentido. Presente ou passado. Verbo ou substantivo. Infinitivo ou particípio. Participo do infinito? Afeto é o princípio antes de qualquer palavra. Palavra é nomear o infinito, é contorno, é transformar afeto em cognição.
Quero comer palavras, digeri-las, absorvê-las, para poder dizê-las desde mim, da minha boca, meus poros, minha cuca.
E de novo sentir-me.
Cem palavras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário