quarta-feira, 13 de abril de 2022

Crônica da vida real

Ela abriu a porta quando me ouviu sair, minhas chaves tilintando na fechadura de casa. Disse-me que havia muito tempo desde a última vez que nos vimos. Perguntei se estava bem, ao que respondeu que sim. Logo complementou com um mais ou menos. E suas feições tornaram-se tristes, como quem estivesse esperando uma fresta, aquele entreabrir de porta para escapar o choro.

Decidi ouvi-la. Falou de sua tristeza, sua solidão e isolamento aos 90 anos dentro de uma pandemia. Presa num entre que não era bem velhice nem doença. Estive o quanto pude. Mas o atraso me chamou e precisei me despedir, fazendo votos de que sua caminhada para espairecer a mente, a qual disse-me que faria logo mais, fosse boa. Dar uma volta ajuda, falou. 

E saí com o peito apertado de mãe, de vó. E de vizinha. 

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