terça-feira, 27 de abril de 2010

Enquanto a hora passa sem chegar

Atravessou o corredor espiando cada um por quem passava. Sentou-se nas escadas e da pasta azul-surrada retirou uma leitura. Mirava-a de cabeça baixa. Quando alguém passava, a cabeça se erguia e logo retornava para o texto de letras uniformes. Até que a leitura, na pasta, guardou, a bolsa, da escada, pegou e se levantou. Deu alguns passos diretos e parou. Olhou para o lado, ainda o corredor; suspirou e na porta mais próxima entrou.

3 comentários:

  1. O tempo é sempre algo intrigante. Alguns minutos podem demorar a passar como se horas fossem; assim como horas podem passar rápidas como segundos. O tempo parece querer brincar, testar nossa incapacidade de controlá-lo, mostrar toda a sua impresivibilidade. Seria interessante, por exemplo, se durante a espera algum conhecido passasse e puxasse conversa; a mesma hora que teimava em passar e não chegar poderia ter chegado e nem ao menos ter sido percebida.

    Outra coisa interessante é que parece existir outra noção de tempo na imaginação. Exemplifico: A situação toda que antecedeu a levantada da escada pode ter durado minutos, mas ocorreu tão rapidamente na minha imaginação que pareceu ter se passado em segundos (tal como numa cena de filme que aceleramos). Todavia, o olhar para o lado e o suspiro, que podem ter ocorrido velozmente, foram imaginados por mim com uma delicadeza e uma riqueza de detalhes tão intensa que pareceram ter durado mais do que meros segundos (como se tivessem ocorrido em camêra lenta). A imaginação nos dá um controle temporal que não temos na vida concreta. É tudo muito intrigante!

    É claro que sei que a leitura que fiz pode ser totalmente destoante do sentido que você quis passar, mas foram essas as sensações que a sua arte me despertaram, isso não se controla (ainda bem!).

    Não sei, só sei que foi assim...

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  2. Legal isso. Sinceramente, não sei quanto tempo tudo isso durou, até porque isso foi criação que virou outra realidade perto da realidade primeira e distinta. Enfim, é criação e realidade, porque criação é realidade. E sobre os tempos, adoro essa flexibilidade virtual dos momentos, dos segundos matematicamente calculados que, quando contados(no sentido narrativo, mas fique com a ambiguidade; é bonito) se desenquadram. É mágica a capacidade de palavras estendem a cena e ainda fazerem-na durar apenas dois segundos.
    E é isso mesmo! Pra mim não existe essa história de destoar de sentido, ainda mais uma narrativa! Os sentidos são todos!
    Ainda bem.
    Só sei que é assim.

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