domingo, 3 de novembro de 2013

Ama(rra)da

Virou-a do avesso. Viu o que apenas ela até então percebera. Contou-a do que ela não havia nomeado em si mesma. Pediu com destreza e insistência que ela se entregasse. Ela resistiu pelas beiradas. Ele quase a invadia. Entrou por empurrões e licenças, revirou detalhes, notou tudo que seus olhos puderam capturar, como se sentisse que não ficaria por muito tempo. Quis tocar em tudo, mas não pôde sentir o que não fora por ela dito. Se ele, já por si, a revelava, ela então não o deixou tocar naquilo que, para ser visto, precisava ser, por ela, dito. Então, decidiu, ela, calar-se um pouco mais. E quase muda ficou. Mas seus olhos expressavam o seu debater e seu corpo pedia-lhe que suas palavras lhe dissessem o que desejar.
Ele a viu, a tocou e a contou como foi. E quando partiu, fechou a porta atrás de si deixando a casa revirada. Levou lembranças que eram pra ser só dela, mudou os cantos de lugar, tocou nas delicadezas daquela mulher, forçou palavras, olhou-a de um jeito só dela. Quis ser ela por um instante para entendê-la por completo. Ele quis varrer até as poeirinhas que ficam no canto, só para lhe dizer o que há por debaixo. Como se ela não soubesse. Como se ela quisesse saber ou que alguém a soubesse. Ele então percebeu que os detalhes eram apenas muitos e que nem sempre explicavam qualquer coisa. E percebeu que nem se fosse ela a entenderia. E não quis acreditar em mais nada que dela vinha.
Virou-a do avesso e se foi.
Ela ficou. A se revirar.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Aviso

Tem alguma coisa que dói em mim. Continua doendo. Não importa se pareça que passou. É, pela primeira vez, mentira. E por mais que eu já não goste mais e não queira mais voltar atrás, por mais que eu tenha mudado de ideia... A ideia me mudou, lá dentro, na pele, nos ossos, na respiração, no raciocínio. Ainda te quero sem querer. Como um tropeço.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Medo

Naquele dia estava onde queria, com quem queria, do jeito que queria. Mas hoje, se nas mesmas circunstâncias, veria outro resultado. Talvez apenas estivesse, com alguém, de um jeito. Mas não mais quisesse.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

domingo, 15 de setembro de 2013

De procrastinar

Desculpe-me se continuo as palavras, se quero olhar em seus olhos e gostar de sua face, se peço para encontra-lo sem rodeios. Desculpe-me se não durmo, se insisto em segurar o que queria lhe falar. Desculpe-me se eu lhe disser enfim o que desejo, pois sei que mexerá com seu desejo e poderei machucá-lo. Desculpe-me se eu decidir me estourar, mas de algum modo você vai gostar. Desculpe-me, mas não me culpe por decidir enfim degustar as recusas que sempre me foram queridas. Você é uma delas.
 
Quero descaralhar o mundo.

Que assim seja. Sem desculpas.
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Para ler ao som da música "I got a man" (The Manhattan Cartel). Link: http://www.youtube.com/watch?v=MwhVV8k64x0&list=UU07rA9-cp20uwZRoeDV8LcQ

terça-feira, 20 de agosto de 2013

In quietude

A verdade é nua e crua. Não sabemos o que nos espera. Sabemos apenas que vamos nos boicotar em alguns momentos, mas nem sempre o motivo nos será revelado. Somos mestres em não saber a verdade, pois esta é cruel e inventada. Mas faz sentido quando queremos que faça. É tudo armado, até o amor. É uma farsa, mas não perseguição. Estamos inclusos e fazemos parte dessa repartição de loucura. É tudo ilusão. Mais real impossível. Queremos fugir quando não sabemos mais como gostar do outro, quando não dá mais para olhar e dizer a verdade, pois a verdade nesses momentos já não o é mais. Não queremos mais olhar em outros olhos e enxergar nossas mentidas, que vão nos ferir e aos outros. Queremos então esquecer, coletivamente, para podermos novamente viver juntos, sem termos nos ferido e sequer nos conhecido. É preciso seguir na masmorra, perder a respiração. Ser hipócrita e ferir. É preciso sangrar seu coração. Escorrer pela ferida aberta a dor da ignorância. O tempo às vezes é excesso; às vezes, desvario. Não sabemos mesmo o que falamos quando dizemos. Achamos que vamos conseguir, mas a vida nos faz virar piada. Não somos importantes a não ser para nós mesmos. Somos míopes e egoístas. Todos nós. Quando não, é mentira. Máscara bem vestida; só que não. Sabemos que somos capazes dos piores desejos e das maiores crueldades, mas ainda queremos acreditar que somos bons. Somos todos facas capazes de rasgar o chão.