Meu coração bate atrasado. Os segundos ultrapassam a emoção. Está tudo reverso, errado. Não posso mais continuar assim. Um tumulto que me atordoa. Prefiro sentar no cantinho, encolhida em mim mesma. Preciso respirar... e lembrar-me de como dar o próximo passo.
Parece fácil partir, mas chegar a esse ponto é admitirmos a fraqueza dos nossos sonhos, o quanto nos precipitamos e cantamos vitória por algo ainda incerto. Queremos sempre ser mais espertos que o tempo e por vezes mergulhamos nessa ilusão sem medo de nos afogar, embora ela seja tão funda que não nos dê pé. Entramos sem saber como sairemos se for preciso. E será, inevitavelmente, mesmo que somente para respirarmos e tocarmos o chão por um momento. Não somos capazes de viver o presente na ilusão. Vivemos apenas um futuro que talvez se realize e nada mais. E o futuro não passa de um vazio cheio de incertezas, algo que só traz felicidade quando vira presente, o que decerto preenche. Pronto. O suficiente. Não desejamos mais que isso, essa é a verdade.
Queremos o prazer de nos sentir especiais, leves o suficiente para sentirmos o vento com a intimidade das aves, flutuar. Queremos a comprovação incessante de sermos únicos, enquanto não suportamos a idéia de estarmos únicos. Queremos tanto, porém sabemos que lutamos tão pouco. Costumamos esperar que o futuro caia do céu, que a pessoa certa cruze nosso caminho, nos arrebate, nos faça feliz... Contudo, não paramos para pensar que qualquer um possa ser essa pessoa. Certa ou não, depende do quanto estamos dispostos a investir nela. É tudo tão simples, mas pelo que parece a simplicidade não nos apetece. É-nos intragável.
Buscamos o mistério e fingimos querer resolvê-lo. É um espetáculo, cheio de movimentos consensuais e complicados dentro de um labirinto. A gente vê a saída, mas a ignoramos, como se de tanto rodopiarmos não conseguíssemos mais nos orientar. Não, não, ainda não é isso. Acho que temos a esperança de que a saída esteja logo ao lado, naquele corredor que deixamos por último e que ainda não olhamos por tantos motivos. Temos medo, afinal, de que a última curva nos revele nada além de outra parede, igual a todas as outras que nos rodeiam e orientam pelo caminho. Temos medo de que depois de tudo que nossa racionalidade traçou, haja apenas mistério. Talvez a vida seja isso mesmo, toda essa loucura, sem saída para nenhum de nós.
Soluço e aperto minhas pernas dobradas contra o peito. Sei que a única saída para o sofrimento será prosseguir a despeito das imprecisões da vida, e que as lágrimas cessarão daqui a pouco mesmo que voltem depois. O sorriso tomará meu rosto, não sei quando. Talvez quando minhas pernas vencerem o medo da próxima curva ou mesmo agora, para afastar as lágrimas. Sinto o cantinho dos lábios erguidos. Sorrio desses meus pensamentos errantes, que só aparecem quando não consigo sair do lugar. De algum jeito eles me movem, me agitam, lembram-me que o próximo passo não pode ser dado sem o paradoxo de cada dia.
"Acontece as vezes e não avisa"
ResponderExcluire é claro que a gente acaba sorrindo. Depois dessa espécie de pranto, sim. A gente acaba sorrindo. O paradoxo é a natureza de tudo isso. É a nossa natureza. É a flor.
"Doeu a flor em mim tanto e com tanta força que eu dei de soluçar".
Você estava certa: esse verso foi maravilhoso tendo sido recitado por você. Precisava ser.
Alegrias fundas para nosso 2010, Paula. Para nossa vida.