Lembro-me que respiro e isso me desnorteia. Basta puxar a ponta do fio para desatar o novelo. Depois que sei, não sei como deixar de saber. Preciso esquecer para respirar em paz. Lembro-me de notar meu coração bater. Isso o torna pesado, feito barco contra a maré. Mas a verdade é que me falta água. Aqui dentro. Secura no peito. Eu não sei nadar. Parece que meu sangue escasseia. Parece sede, talvez seja. Quero beber. Dos seus lábios. Dos seus olhos. Do seu sorriso. Do seu toque. Da sua voz. Ouço seu canto quando lembrar não é suficiente. Por dias me esqueço, penso que passou o dobro do tempo. A esperança faz um segundo ser dois, pois é o tempo de você vir mais o tempo de você chegar. Ou o tempo de eu ir mais o tempo de te encontrar. Imagino. Ou me lembro. Ou imagino? Eu me lembro, mas o que recordo pode não ser o que foi. Não sei mais se o que passou, passou, ou se virou outra coisa. A gente costuma ignorar o que não consegue ver. A gente costuma também se distrair com as palavras. Sou eu tão fiel quanto elas? Confio apenas nas palavras que saem porque conseguiram escapar. Palavras são desejos condensados que podem se dissipar. A qualquer momento. Não há verbo que nos defina ou que precise o que um ser é capaz. O que esperar, então? Do que preciso quando aguardo? Como seguir quando se espera? Meu desejo é um hífen entre a inércia e a aceleração. Ando-esper-ando-esper-ando-esper-ando.