Virou-a do avesso. Viu o que apenas
ela até então percebera. Contou-a do que ela não havia nomeado em si mesma.
Pediu com destreza e insistência que ela se entregasse. Ela resistiu pelas
beiradas. Ele quase a invadia. Entrou por empurrões e licenças, revirou
detalhes, notou tudo que seus olhos puderam capturar, como se sentisse que não
ficaria por muito tempo. Quis tocar em tudo, mas não pôde sentir o que não fora
por ela dito. Se ele, já por si, a revelava, ela então não o deixou tocar naquilo
que, para ser visto, precisava ser, por ela, dito. Então, decidiu, ela,
calar-se um pouco mais. E quase muda ficou. Mas seus olhos expressavam o seu
debater e seu corpo pedia-lhe que suas palavras lhe dissessem o que desejar.
Ele a viu, a tocou e a contou como
foi. E quando partiu, fechou a porta atrás de si deixando a casa revirada. Levou
lembranças que eram pra ser só dela, mudou os cantos de lugar, tocou nas
delicadezas daquela mulher, forçou palavras, olhou-a de um jeito só dela. Quis
ser ela por um instante para entendê-la por completo. Ele quis varrer até as
poeirinhas que ficam no canto, só para lhe dizer o que há por debaixo. Como se
ela não soubesse. Como se ela quisesse saber ou que alguém a soubesse. Ele
então percebeu que os detalhes eram apenas muitos e que nem sempre explicavam
qualquer coisa. E percebeu que nem se fosse ela a entenderia. E não quis
acreditar em mais nada que dela vinha.
Virou-a do avesso e se foi.
Ela ficou. A se revirar.